Capítulo 5 — O Começo de Uma Família


O fim da tarde tingia o céu de dourado quando Lívia voltou para casa. O diário do explorador estava seguro em suas mãos, quente, não por magia, mas pelo tanto que ela o carregava junto do peito.

Ao entrar, encontrou o pai sentado ao lado da janela, observando o movimento das nuvens. A mãe arrumava a mesa com calma, cantarolando baixinho uma melodia que Lívia já conhecia desde pequena.

O pai sorriu.

— Então, minha detetive, mais uma descoberta hoje?

Lívia se sentou perto dele, ainda abraçando o diário.

— Sim… hoje eu li sobre dois irmãos. Foi uma história difícil. E o explorador… ele falou muito sobre escolhas, sobre cuidar uns dos outros.

A mãe enxugou as mãos no avental e se aproximou.

— Às vezes, histórias difíceis nos ensinam mais do que imaginamos, Lívia.

O pai se inclinou para ver o diário.

— Posso contar uma coisa que talvez te ajude a entender?

Lívia assentiu, curiosa.

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A Voz de Quem Já Viveu Algo Parecido

O pai respirou fundo, como quem vai buscar uma memória antiga.

— No começo da Bíblia, depois de Adão e Eva, aparecem muitos nomes. Filhos, netos, bisnetos… uma fila de gente que nasceu, viveu e marcou sua história. Cada nascimento mudava algo. Cada criança trazia uma esperança diferente para a família.

A mãe completou:

— Quando as pessoas liam esses nomes, elas lembravam que ninguém vive sozinho. Cada pessoa é parte de uma história maior.

Lívia abriu o diário, passando o dedo pelas margens, como se buscasse ali aqueles nomes antigos.

— E tem uma história especial — disse o pai. — A de Enoque.

Lívia levantou os olhos.

— O explorador ainda não falou dele…

— Mas você vai gostar — sorriu o pai. — A Bíblia diz que Enoque passou a andar com Deus depois que seu filho nasceu. É como se aquele bebê tivesse despertado nele um novo jeito de enxergar a vida.

A mãe se aproximou e colocou a mão no ombro de Lívia.

— Porque às vezes, Lívia, quando alguém chega… tudo muda. A gente começa a caminhar diferente... a escolher diferente.

Lívia pensou um pouco. Depois olhou para os dois.

— E com vocês? Mudou alguma coisa quando eu nasci?

O pai riu baixinho, como quem guarda uma resposta pronta desde sempre.

— Tudo mudou.

A mãe se sentou ao lado dela e disse:

— Antes de você, éramos só nós dois, tentando entender o mundo. Quando você chegou, sentimos que Deus nos entregou uma missão especial. Começamos a cuidar mais um do outro, a pensar mais antes de agir… começamos a caminhar com Deus de um jeito novo.

O pai completou:

— É como se Deus tivesse sussurrado: “A partir de agora, vocês não caminham mais sozinhos.”

Lívia sentiu um calor suave no peito. Não era o diário. Era outra coisa — uma certeza, talvez.

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Uma Família Que Caminha Junto
A mãe alisou o cabelo da filha.

— Sabe, Lívia, famílias são assim. Elas não são perfeitas. As pessoas às vezes erram, se machucam, se perdem. Mas quando a família entende que Deus está junto… tudo encontra um caminho de volta.

O pai assentiu.

— E nós queremos que você cresça sabendo disso: Deus sempre caminha ao seu lado. E nós também.

Lívia fechou o diário devagar. Pela primeira vez, não precisava de uma história antiga para sentir algo profundo. Ela já estava vivendo uma.

— Então… acho que esse também é um dos mistérios da Bíblia — disse ela, sorrindo. — Como Deus usa cada nascimento, cada família, cada começo… para aproximar as pessoas dele.

O pai sorriu, orgulhoso.

— Você entendeu exatamente o que muitos adultos demoram anos para perceber.

A mãe segurou a mão da filha.

— Agora, vamos comer antes que esfrie. Detetives também precisam de jantar.

Lívia riu.
E naquela noite, enquanto a família se reunia à mesa, ela sentiu que estava caminhando.
Caminhando com Deus.
E não estava sozinha.

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