Capítulo 3 - O Jardim e a Escolha
O céu estava limpo quando Lívia sentou-se novamente à sombra da árvore, com o diário sobre as pernas. As páginas estavam secas, mas um perfume diferente parecia emanar dali , algo entre flores e terra fresca.
Com os dedos ansiosos, ela virou para a nova entrada:
"Dia 2 — Encontrei um casal diferente de todos que já conheci. Carregavam nos olhos uma saudade antiga… e nos gestos, um amor ferido, mas eterno."
Lívia se ajeitou e leu com atenção o novo relato do explorador:
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Relato do explorador:
"Eu caminhava por um campo florido, onde borboletas voavam em silêncio e o vento parecia cantar. Foi lá que encontrei os dois.
Estavam sentados perto de um pequeno lago, entre árvores frondosas. A mulher acariciava as folhas como se as conhecesse pelo nome. O homem olhava o horizonte com um ar distante.
Aproximei-me com respeito. Eles me cumprimentaram com um sorriso, e a mulher disse:
— Sabemos por que você veio. Há algo que você precisa ouvir.
Sentamos. O homem começou:
— Fomos os primeiros. Deus nos criou com as próprias mãos e nos deu um jardim. Era tudo perfeito. A brisa da tarde nos fazia dançar, os animais vinham até nós, e eu dei nomes a cada um deles.
— Um dia, quando acordei de um profundo sono, ela estava ao meu lado. Era parte de mim… e ao mesmo tempo, era tudo o que eu não sabia que faltava — completou com os olhos marejados.
— Nosso trabalho era simples: cuidar do jardim, caminhar com Deus, viver. Mas havia uma árvore… e uma voz.
A mulher baixou os olhos.
— Eu me afastei. Fiquei só por um tempo. Foi o suficiente. A serpente se aproximou. As palavras dela eram doces, cheias de dúvida, cheias de... orgulho. E eu acreditei. Toquei. Comi. E depois, ele também.
— Naquela hora, tudo mudou — disse o homem. — O que antes era luz virou sombra. O que era liberdade virou vergonha. Nos escondemos. Mas Deus… nos achou.
Lívia sentiu um nó na garganta.
A leitura continuava:
— Ele nos chamou. Mesmo sabendo. E, com lágrimas nos olhos, nos cobriu com roupas, como um pai cobre um filho assustado. Saímos do jardim. Mas o amor… esse nunca saiu de nós.
A mulher pegou minha mão e disse:
— Diga a quem encontrar este diário: toda escolha tem consequência. Mas nenhuma queda é maior do que a promessa de redenção.
—
No canto da página, Lívia viu um pequeno desenho: uma porta de jardim entreaberta, com uma luz ao fundo. E, abaixo, uma inscrição à mão:
“O pecado nos afastou. Mas Deus nunca parou de nos procurar.”
Ela fechou o diário, abraçando-o com força.
— Eles estiveram com Adão e Eva… ou talvez fossem Adão e Eva — sussurrou.
Olhou ao redor. O bosque parecia mais silencioso, como se respeitasse o que ela acabara de descobrir.

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